PULMÕES em estado de alerta


terça-feira abril 8, 2008

Quando a temperatura cai, sobe o número de vítimas da pneumonia, um mal ainda não totalmente sob controle A pneumonia ainda não ganhou o respeito que merece”. Essa é a frase que Orin Levine, pesquisador da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, tem na ponta da língua quando começa a falar da doença. Líder do esforço mundial por fundos para a pesquisa de vacinas, Levine lamenta que ainda persista a idéia de que se trata “apenas” de uma ameaça aos idosos. Segundo ele, isso ajudou a jogar a pneumonia para segundo plano. “A verdade é que muita gente não se dá conta de que esse é um problema de saúde global”, lamenta.


Em todo o planeta, a inflamação pulmonar é uma das principais causas de morte de idosos e crianças — são 2 milhões de pequenas vítimas a cada ano. Só no Brasil, 2,64 milhões de pessoas foram internadas por causa dela nos últimos três anos. “A população mundial está envelhecendo, o que certamente levará ao aumento explosivo de casos. Além disso, os agentes do mal estão ficando muito resistentes e isso torna o tratamento cada vez mais difícil”, explica Keith Klugman, professor de Saúde Global da Universidade Emory, também nos Estados Unidos.


 Há quem diga que a pneumonia não é uma única doença, e sim várias. Os inúmeros agentes que ocasionam a infl amação dos pulmões, a dificuldade de descobrir qual deles levou ao mal e a crescente resistência aos antibióticos são hoje os grandes desafios da Medicina frente à encrenca. “Diagnosticar os sintomas é fácil. O difícil é saber qual microorganismo é o culpado”, justifica Levine. “Não há como coletar espécimes dos pulmões. Além disso, os testes feitos nas vias aéreas superiores e no sangue falham em quase metade dos episódios.”


Para Peter Appelbaum, especialista americano em resistência a antibióticos da Pennsylvania State University, a grande dificuldade é tratar a pneumonia bacteriana. “Além do pneumococo, uma série de outras bactérias pode causar a doença. Por isso, a terapia com antibióticos muitas vezes é empírica para ser capaz de cobrir uma grande variedade de organismos”, explica.


A vacina, a única maneira de prevenir a doença, só consegue proteger contra 23 tipos. “Para controlar e reduzir a incidência de pneumonia precisamos tratá-la com antibióticos e evitá-la por meio da imunização, que atualmente é recomendada para maiores de 65 anos e crianças acima de 2 anos”, diz Levine.


A resistência a drogas e a falta de uma vacina efi ciente não são exclusividade da pneumonia. Tudo isso contribuiu para que outra doença pulmonar chegasse a níveis alarmantes no mundo — e aqui estamos falando de tuberculose. Só em 2005 foram 1,6 milhão de vítimas fatais. “Seguimos usando o mesmo método diagnóstico 125 anos depois que Robert Koch nos ensinou a detectar o mal”, diz Mirtha Del Granado, diretora do programa de tuberculose da Organização Pan-Americana de Saúde, com sede em Washington. “Também continuamos a tratá-lo com o mesmo coquetel de antibióticos de 40 anos atrás. E só recentemente a ciência começou a pensar em produzir uma vacina eficiente. Ou seja, a tuberculose foi muito desatendida”, resume.


Assim como acontece com a pneumonia, a comunidade científica vem enfrentando a resistência do bacilo causador. “A grande esperança é a descoberta de uma vacina. Acreditamos que isso aconteça em 2015. Com ela, poderemos erradicar a doença em 2050”, conclui Granado.


 



ATAQUE IMPIEDOSO
 A infecção ataca um ou ambos os pulmões, sobretudo quando o sistema de defesa foi debilitado por outra doença, como gripe, tuberculose, alcoolismo, fumo, diabete e males do coração



  OS GRANDES VILÕES
Estes são os agentes acusados de inflamar os pulmões:


 Streptococcus
Também conhecida como pneumococcus, a Streptococcus pneumoniae é a causa predominante de pneumonia no mundo. Outras bactérias também provocam a doença — a Haemophilus influenzae e a Staphylococcus aureus estão entre as mais importantes.



Influenza
O vírus da gripe (influenza) afeta o sistema respiratório, sobretudo nos casos de baixa imunidade, e também faz muitas vítimas entre os idosos, que correm maior risco durante o inverno. A pneumonia surge como uma complicação. A do tipo viral costuma ser menos grave do que a bacteriana.



 Micoplasma
Microorganismos com características de vírus e bactéria, estão entre os menores seres vivos que existem. A pneumonia causada pela Mycoplasma pneumoniae não é tão grave quanto as outras e é comum em crianças em idade escolar.


  Pneumocystis carinii
É uma das infecções oportunistas mais freqüentes em HIV positivos. Causada por um fungo, enfraquece muito suas vítimas. O paciente perde peso e corre grande risco de voltar a ter esse ou outro tipo de pneumonia.


ATENÇÃO NOS SINTOMAS
 Como em qualquer doença, quanto antes a pneumonia for detectada, melhores serão os prognósticos


• Calafrios
• Febre alta
• Suor intenso
• Dor no peito e dificuldade para respirar
• Falta de ar
• Tosse com ou sem catarro
• Fadiga, moleza, prostração