Problema na gravidez pode servir de alerta sobre doenças cardíacas


quarta-feira março 25, 2009

Pré-eclâmpsia afeta cerca de 5% das grávidas americanas todo ano.
Anomalia tem relação com aumento dos infartos e derrames mais tarde.



As dores e os incômodos da gravidez tendem a ser esquecidos assim que a mãe põe os olhos no seu recém-nascido. No entanto, quando se fala em pré-eclâmpsia, uma condição que resulta em pressão alta e vazamentos nos vasos sanguíneos, especialistas alertam às mulheres para o perigo de seu martírio temporário vir acompanhado de riscos duradouros à saúde.


A pré-eclâmpsia afeta cerca de 5% das grávidas, ou uma estimativa de 300 mil mulheres por ano nos Estados Unidos. Suas causas são desconhecidas. A marca registrada dessa disfunção é a pressão alta e a presença de proteína na urina, um sinal de que os vasos sanguíneos estão deixando vazar, inadequadamente, proteína a outros tecidos. Outros sintomas incluem inchaços severos, dores de cabeça e problemas de visão.


A condição vai embora logo após o parto e muitas mulheres nunca pensam sobre ela novamente. Porém, um conjunto crescente de evidências mostra que as mulheres que desenvolvem pré-eclâmpsia têm duas vezes mais riscos de sofrer um ataque cardíaco ou derrame no futuro. “É um despertar”, disse Graeme N. Smith, professor de obstetrícia e ginecologia da Queens University, em Ontário, e autor de um estudo sobre pré-eclâmpsia e doenças cardíacas. “Elas são, na maioria das vezes, mulheres jovens e saudáveis”.


Indicações precoces de doenças cardíacas aparecem mais comumente em mulheres que tiveram pré-eclâmpsia, segundo as pesquisas. Um estudo realizado este ano descobriu que as mulheres com esse problema tiveram uma propensão maior a formar coágulos sanguíneos. Outro estudo, de 2007, encontrou um endurecimento maior das artérias em mulheres que tiveram pressão alta durante a gravidez.


Pressão e colesterol


A equipe de Smith está acompanhando cerca de 600 mulheres após a gravidez, metade das quais tiveram pré-eclâmpsia. Seu estudo mais recente, publicado no “The American Journal of Obstetrics”, comparou 70 mulheres em cada grupo, um ano após o parto. Ele encontrou uma taxa de pressão alta mais elevada, um maior nível de colesterol, açúcar no sangue e índice de massa corporal mais elevado no grupo que teve pré-eclâmpsia.


Outros estudos descobriram que as mulheres com pré-eclâmpsia tiveram mais ataques cardíacos, derrames e coágulos sanguíneos mais tarde na vida, quando comparadas a mulheres que não sofriam dessa condição. “Os dados são decisivos”, disse Thomas R. Easterling, obstetra e pesquisador de pré-eclâmpsia da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington.


A crença atual é de que a pré-clâmpsia não aumenta por si só o risco de doenças cardíacas. Em vez disso, ela parece desmascarar a propensão de uma mulher para problemas do coração. A gravidez é um tipo de teste de estresse para o coração, disse Smith, acrescentando: “Quão bem ou quão mal você vai no teste do estresse é realmente um indicador do seu risco futuro de saúde”.


Esse risco é pequeno, mas digno de atenção. De cada cem mulheres em seus 40 e poucos anos, com um histórico de gravidez normal, estima-se que cerca de quatro delas tenham um ataque cardíaco ou derrame dez anos depois, disse David Williams, obstetra do University College de Londres que publicou uma análise de 25 estudos sobre pré-eclâmpsia em 2007. No entanto, os números sobem para oito em cada cem entre mulheres com pré-eclâmpsia, e até mais entre aquelas que tiveram essa condição mais de uma vez.


Williams aconselha pacientes com pré-eclâmpsia a serem examinadas frequentemente em relação aos níveis de colesterol, açúcar no sangue e pressão sanguínea, e a considerar um tratamento com medicação caso esses níveis estejam altos. Porém, a crescente consciência da relação entre a pré-eclâmpsia e doenças cardíacas permanece um desafio. “Isso não é prontamente apreciado por médicos”, disse Smith. “Se você perguntar a um cardiologista, ele diz nunca ter ouvido falar nisso”.


Três gravidezes


Um painel de especialistas, que revisou orientações nacionais em relação à pressão sanguínea, está avaliando todas as evidências recentes sobre a pré-eclâmpsia e as doenças cardíacas, disse Daniel Jones, ex-presidente da Associação Americana do Coração e reitor da Faculdade de Medicina da Universidade do Mississippi.


A boa notícia, dizem os médicos, é que a pré-eclâmpsia pode provar ser um sentinela das doenças cardíacas, maior causa de morte entre mulheres nos Estados Unidos. “Quanto mais precocemente você diagnosticá-las, mais provavelmente você poderá prevenir doenças cardiovasculares”, disse Smith. “É uma oportunidade que as pessoas têm de mudar o futuro.”