Nova radioterapia avança no País


sexta-feira abril 11, 2008

Modalidade intra-operatória reduz número de sessões e tempo do tratamento de câncer, principalmente de mama
 
Uma nova modalidade de radioterapia começa a ganhar espaço no Brasil, especialmente no tratamento de pacientes com câncer de mama. A radioterapia intra-operatória consiste em uma única aplicação de radiação, feita durante a cirurgia para retirada do tumor, em substituição às 20 normalmente exigidas.


A aplicação é feita enquanto o paciente ainda está anestesiado, diretamente nos tecidos internos, direcionada por um cone. Com isso, os médicos podem administrar uma dosagem alta (economizando sessões e tempo) e concentrada, atingindo muito menos tecidos saudáveis.


Os efeitos colaterais são menores e a taxa de reincidência do câncer, observada até agora, é semelhante ao procedimento padrão, entre 3% e 5%. Cumprida essa etapa, o paciente pode adiantar o processo e seguir logo para a quimioterapia.


Nem todos os casos são recomendados para a radioterapia intra-operatória. Há preferência para casos de tumores pequenos e que não tenham atingido linfonodos. “De 40 pacientes em tratamento, 15 se encaixariam no perfil”, afirma João Victor Salvajoli, chefe do departamento de radiologia do Hospital A.C. Camargo. “É uma sofisticação do tratamento, a ser feito em centros hiperespecializados.”


No Brasil, o procedimento é oferecido em poucas cidades – pelo menos em Belo Horizonte, Campinas, Porto Alegre e São Paulo -, em caráter experimental. Porém, os médicos estão bastante confiantes de sua segurança. Para ser incorporado definitivamente na lista de opções, falta a publicação de um estudo de grande escala, com mais de mil casos, conduzido pelo médico italiano Umberto Veronesi, que foi quem desenvolveu a técnica.


COBERTURA


A radioterapia intra-operatória não está na lista de procedimentos pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou pela maioria das seguradoras de saúde. No A.C.Camargo, em São Paulo, a técnica custa entre R$ 7 mil e R$ 8 mil.


Paradoxalmente, uma das principais vantagens é a melhora na qualidade de vida dos pacientes, em especial os mais pobres, que são os que mais sofrem com o deslocamento constante até o hospital durante seis semanas, exigido pelo procedimento padrão. “É coisa de país rico que traz vantagem para o país pobre”, diz o médico Eduardo Weltman, do Hospital Albert Einstein.


Potencialmente, a técnica poderá ajudar a reduzir a fila de espera por radioterapia, ainda que exija uma estrutura complexa, com salas de cirurgia e radioterapia conjugadas, além de equipe especializada. “Com US$ 1 milhão pode-se montar essa estrutura. O valor é alto para mim e para você, mas não para o governo, especialmente quando considera-se desafogar a demanda”, avalia Weltman.


Enquanto isso, a técnica tem sido utilizada com sucesso também em outros tipos de câncer, especialmente em tumores do abdome. Centros de oncologia brasileiros continuam a coletar dados e os médicos esperam que, em breve, a radioterapia intra-operatória possa ser complementar à terapia padrão.


“A mulher passa por um trauma muito grande quando lida com um câncer de mama. Fazer duas coisas ao mesmo tempo ajuda a superar isso”, diz a professora e estudante de enfermagem Viviane Ítala Rossi Mayetta, de 46 anos. Ela passou pelo procedimento em novembro, que não foi coberto pelo plano. “A cicatriz fica um pouco maior do que o normal, mas a tendência é que suavize”, diz. “Em termos práticos, até me senti mais segura pelos dois procedimentos serem feitos juntos”, disse ela.


O câncer de mama é o tipo da doença que mais mata mulheres no Brasil. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que cerca de 49.400 novos casos serão registrados em 2008. A reincidência, na maioria das vezes (por volta de 85%), ocorre perto do local onde o primeiro tumor apareceu.



Testes iniciais mostram ausência de seqüelas


O médico italiano Umberto Veronesi, de 82 anos, pesquisador do Instituto Europeu de Oncologia, em Milão, foi quem começou a aplicar a radioterapia intra-operatória com elétrons em pacientes com câncer de mama. Desde 1999, ele já testou o procedimento em mais de mil pacientes. Resultados preliminares, divulgados em congressos e revistas especializadas, mostram a ausência de efeitos colaterais incomuns ou seqüelas, o que dá confiança a outros médicos de que o tratamento apresenta o mesmo grau de segurança que a terapia padrão. A publicação dos dados consolidados é esperada para breve. Veronesi é mundialmente conhecido como um dos precursores de outra técnica importante relacionada ao câncer de mama: ele foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da cirurgia que retira apenas o pedaço da mama atingida pelo tumor. Antes, a prática era a mastectomia total