Movimento na infância faz bem para o coração
sexta-feira abril 11, 2008
O melhor tratamento contra a obesidade infantil pode ser o resgate de brincadeiras simples, como correr, jogar bola ou pular corda, de preferência acompanhadas de perto por profissionais.
É o que defende a fisioterapeuta Márcia Braz Rossetti, autora da tese de doutorado “Impacto da atividade física na cardioproteção de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade”, defendida no Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG.
Parece trivial, mas entre crianças acostumadas à combinação televisão-videogame-computador, atividades que exigem esforço físico estão em baixa. “Os índices de obesidade estão aumentando hoje em decorrência da mudança no estilo de vida”, afirma Rossetti.
Acompanhamento
O estudo consiste na avaliação de um grupo de 45 crianças, moradoras de Belo Horizonte, com idade entre 8 e 16 anos, atendidas no Ambulatório Doenças Nutricionais do Hospital das Clínicas da UFMG. Todas foram acompanhadas por uma equipe multidisciplinar, formada por pediatra, nutricionista, psicóloga e fisioterapeuta.
Desse grupo, 27 foram encaminhadas para o Centro Desportivo da PUC Minas, onde Márcia Rosseti é professora do curso de Fisioterapia. Lá, participaram de 50 minutos de exercícios recreativos, três vezes por semana, ao longo de doze semanas, supervisionadas pela professora e por estudantes de fisioterapia.
A avaliação do impacto da atividade física foi realizada com base em exames de sangue e testes físicos: antropometria, plicometria (medição da espessura das pregas cutâneas) e teste funcional. O peso corporal não foi levado em conta, já que nessa faixa etária o crescimento e o desenvolvimento são contínuos.
Resultados
Entre as crianças que fizeram as atividades recreativas monitoradas, houve queda de 1% no IMC (Índice de Massa Corporal), redução de 18% do colesterol total, melhora de 15% na capacidade funcional aeróbica (nível de condicionamento físico) e queda de 25% nos níveis de proteína C-reativa, um indicador do risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
Já nas 18 crianças que receberam o acompanhamento-padrão (médico, nutricional e psicológico) houve aumento de 31,7% nos níveis de C-reativa. Ou seja, o risco de doenças cardiovasculares aumentou significativamente. Além disso, o IMC, os níveis de colesterol e a capacidade funcional não apresentaram variações importantes no grupo que não participou de atividades físicas monitoradas.
O trabalho se transformou em projeto de extensão conjunto da UFMG e da PUC e ganhou monitores também dos cursos de Educação Física e Psicologia. As crianças atendidas são de famílias pobres, por isso recebem ajuda para custear despesas com o transporte de suas residências até o local de tratamento.
Agora, a expectativa da autora é que o trabalho seja um incentivo para a incorporação de mais atividades físicas ao cotidiano infantil, com mobilização das famílias e principalmente das escolas. “Atualmente a maioria das escolas determina apenas uma aula de educação física semanal. É preciso que haja maior exposição das crianças à atividade física em ambiente supervisionado”, defende Márcia Bráz Rossetti.