Menosprezada, doença renal causa grandes estragos
terça-feira novembro 25, 2008
Em fevereiro de 2005, Rita Miller, organizadora de eventos em Chesapeake, Virgínia, se sentia exausta devido ao que ela julgava ser uma gripe. Ela ficou chocada em saber que a persistente pressão alta causou um estrago tão grande no rim que o corpo dela não conseguia mais filtrar toxinas do sangue.
“O médico chegou perto da minha cama e disse: Você têm insuficiência renal – seus rins são como ervilhas secas”, lembrou Miller, agora com 65 anos, que não ia ao médico nem media a pressão havia anos.
“O médico disse: Traga sua família aqui agora mesmo”, contou ela. “Eles me diziam que eu poderia não sobreviver. Fiquei em estado de choque. Comecei a diálise no dia seguinte”.
Miller, que desde então se mudou para Connecticut para ficar com os filhos, era um dos milhões de americanos que ignoram o fato de sofrerem de doença renal crônica, que é causada na maioria dos casos por uma hipertensão incontrolada (como no caso dela) ou diabetes, e geralmente é assintomática até atingir estágios mais avançados. O número de pessoas com a doença – geralmente abreviada como CKD (do inglês, chronic kidney disease) – tem aumentado em um ritmo significativo, em grande parte devido à crescente obesidade e ao envelhecimento da população.
Uma análise de dados federais sobre saúde publicada no último mês de novembro no The Journal of the American Medical Association revelou que 13% dos adultos americanos – cerca de 26 milhões de pessoas – têm doença renal crônica. Há uma década, eram 10%, ou cerca de 20 milhões de pessoas.
“Tivemos um aumento marcante na doença renal crônica nos últimos 10 anos, e esse quadro persiste com os baby boomers entrando na idade da aposentadoria”, disse Dr. Frederick J. Kaskel, diretor de nefrologia pediátrica do Hospital Infantil em Montefiore, no Bronx. “O peso para o sistema de saúde é enorme e vai piorar ainda mais.”
“Não temos unidades suficientes para oferecer diálise a esses pacientes”.
Preocupado com esse quadro emergente, agentes federais de saúde deram início a programas pilotos para reforçar o conhecimento público, aumentar a supervisão epidemiológica e expandir esforços para examinar aqueles mais sujeitos ao risco – pessoas com pressão alta, diabetes ou um histórico familiar de doença renal.
Essas pessoas, e aquelas que já têm a doença, geralmente podem ser beneficiadas pelo mesmo tipo de medicamentos e mudanças de estilo de vida usados para combater a hipertensão e a diabetes. As pessoas são orientadas a imediatamente parar de fumar, perder peso, fazer exercícios regularmente, restringir a dieta e, se necessário, controlar a pressão sangüínea e a diabetes com medicação. Mas esses esforços não conseguem recuperar funções renais perdidas.
O problema é que a maioria das pessoas conhece muito pouco sobre doença renal crônica e raramente pergunta ao médico como anda sua função renal. E muitos daqueles que têm a doença se sentem relativamente bem até o estágio mais avançado da doença, apesar de poderem sentir sintomas não-específicos como câimbra muscular, perda de energia e baixa concentração.
“A maioria de nós, quando pensa em doença renal, pensa em diálise ou transplante”, disse Dr. Joseph A. Vassalotti, diretor médico da National Kidney Foundation, um grande grupo de defesa e educacional. “Eles não entendem que a doença abarca um espectro largo e que a maioria dos pacientes desconhece seu quadro de enfermidade”.
A doença renal crônica progride com o passar dos anos, com suas fases determinadas segundo dois critérios: a presença de proteína na urina, conhecida como proteinúria, e quão eficaz são os rins na hora de processar toxinas.
Pacientes só se submetem a diálise ou transplante de rim quando estão no estágio final da doença, também conhecida como insuficiência renal ou doença renal em estágio final. Mas o caminho até a falência dos rins pode levar anos. “Somente uma pequena porcentagem dos pacientes com doença renal precisam de diálise”, afirmou Dr. Stephen Fadem, nefrologista de Houston e vice-presidente da American Association of Kidney Patients.
A doença renal crônica por si só pode prejudicar o sistema cardiovascular e levar a outras condições médicas muito sérias, como anemia, deficiência de vitamina D e problemas nos ossos. Os pacientes têm muito mais probabilidade de morrer de doenças cardíacas do que sofrer insuficiência renal.
Pelo fato de afro-americanos, latinos e outras minorias sofrerem desproporcionalmente de hipertensão e diabetes, eles apresentam taxas mais altas de doença renal e insuficiência dos rins. Outros casos são causados por distúrbios genéticos, doenças auto-imunes como lúpus eritematoso sistêmico, uso prolongado de certos medicamentos, como antiinflamatórios, e uma inflamação nos rins chamada de glomerulonefrite.
Em 2005, mais de 485 mil pessoas viviam graças à diálise ou transplante, a um custo total de US$ 32 bilhões. O Medicare paga grande parte desse custo, porque oferece cobertura para pacientes que precisam de diálise ou transplante mesmo se eles tiverem menos de 65 anos. Na verdade, doenças e insuficiências renais respondem por mais de um quarto das despesas anuais do Medicare.