Médicos britânicos pedem apoio à aprovação de lei sobre embriões


sexta-feira março 28, 2008

Legislação permitiria criação de embriões híbridos de humanos e animais.
Católicos se opõem à permissão; pesquisadores defendem iniciativa.


O debate sobre a polêmica lei britânica de pesquisa com embriões híbridos foi retomado nesta segunda-feira (24), com uma carta enviada por mais de 350 organizações médicas aos parlamentares do Reino Unido, na qual pedem a eles que votem a favor da legislação à qual os católicos se opõem.


A Associação de Organizações de Pesquisa Médica (AMRC, em inglês), que reúne 223 entidades sem fins lucrativos, e o Grupo de Interesse Genético (GIG, em inglês), que congrega 130 organizações de apoio a pessoas com transtornos genéticos, assinam um documento com o qual pretendem rebater os argumentos dos críticos da iniciativa.


O projeto de lei de pesquisas embrionárias e de fertilidade, que será submetido à votação na Câmara dos Comuns nas próximas semanas, contempla a criação de embriões híbridos, que combinam DNA de animais e seres humanos, destinados à pesquisa com fins terapêuticos.


No último final de semana, o ministro da Saúde Alan Johnson, foi obrigado a defender o projeto do Governo trabalhista frente às duras críticas da Igreja Católica.


O arcebispo de Westminster, Cormac Murphy-O’Connor, primaz católico da Inglaterra e do País de Gales, pediu ao primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que libere os deputados de seu partido para “votar de acordo com suas consciências”.


O primaz da Igreja Católica na Escócia, cardeal Keith O’Brien, se mostrou mais contundente ao chamar o projeto de lei de “ataque monstruoso contra os direitos humanos, a dignidade humana e a vida humana”.


Após afirmar que a medida é imprescindível para avançar no tratamento de doenças como Parkinson e Alzheimer, Johnson disse que, para evitar uma divisão no próprio Executivo, no qual há três ministros católicos, é possível que os parlamentares trabalhistas sejam liberados para se absterem nos pontos mais polêmicos da lei.


Os partidos oposicionistas Conservador e Liberal-Democrata anunciaram que darão liberdade de voto a seus parlamentares, já que consideram que se trata de um assunto de consciência.


Em sua carta, as associações de pesquisa médica, dentre as quais estão Cancer Research UK, British Heart Foundation e Muscular Dystrophy Campaign, pedem aos deputados para votar a favor da medida, que permitirá grandes avanços científicos.


Os cientistas argumentam que a criação de embriões híbridos com núcleos celulares humanos em óvulos animais – que seriam utilizados para desenvolver células-tronco que depois seriam destruídas sem chegar à fase fetal – compensaria a atual escassez de doações de óvulos humanos.


Longe de produzir “Frankensteins” e “monstros híbridos”, como dizem alguns setores da Igreja Católica, os cientistas afirmam que esses embriões – que não seriam implantados em fêmeas para a reprodução – permitiriam aprofundar “o conhecimento de transtornos médicos graves que afetam milhões de pessoas no Reino Unido”.