Estresse é causa da morte de neurônios e pode levar à depressão
terça-feira novembro 25, 2008
Pesquisa da União Geral dos Trabalhadores apontou que, por conta da grande demanda de trabalho, 2/3 dos trabalhadores brasileiros sofrem desse mal.
Insegurança em relação ao futuro no trabalho é uma das causas
Não há entre os clínicos um consenso exato sobre quando se entra de um processo de estresse e quais são os sintomas. Sabe-se que o problema é um processo dinâmico – uma pessoa pode entrar na primeira fase, a de alerta, várias vezes ao longo do dia – e que a ansiedade é uma característica comum.
“Toda pessoa que se sente ansiosa na maioria dos seus dias e na maior parte do tempo, está entrando na fase de alerta”, acredita Geraldo Possendoro, psiquiatra, psicoterapeuta e especialista em medicina comportamental.
A fase de alerta é a primeira do processo de estresse e, para o psiquiatra, aquela em que se encontra grande parte da população de cidades como São Paulo. Nelas costumam estarem presentes fatores externos que podem desencadear o estresse, como poluição, trânsito intenso e violência.
“É natural que as pessoas experimentem eventos estressantes. Uma entrevista de emprego, uma festa em que a ex-namorada vai estar com o namorado atual, entre outras. Mas quando esses eventos estressantes se tornam rotina, você entra na fase de alerta”, explica Possendoro.
Qualidade de vida
Antes que se chegue à segunda e à terceira fases, de resistência e exaustão, respectivamente, o indivíduo pode sair da situação de estresse por meio de técnicas de relaxamento, da prática de exercícios físicos e de mudanças no estilo de vida.
Essa é a hora de combatê-lo. Estudos indicam que os nossos neurônios possuem fatores que contribuem para a sobrevivência, chamados anti-apoptóticos, e fatores que prejudicam, chamados apoptóticos (sendo “apoptose” a morte celular). “Estresse aumenta a ação das substâncias apoptóticas. Estresse mata neurônios. Sob estresse a gente perde mais (neurônios) e isso pode levar a sintomas depressivos”, diz Possendoro.
É claro, a solução não é tão simples. Mudar de emprego, mudar a alimentação, sair das situações e dos ambientes de estresse que fazem parte do dia-a-dia é incabível e inviável para a maioria dos estressados. Procurar a ajuda de um profissional psicoterapeuta nessa hora é o mais aconselhado.
Tratamento
Geraldo Possendoro acredita que são cinco as estratégias de tratamento de estresse na terapia cognitivo-comportamental. Em um primeiro eixo: técnicas de relaxamento muscular, meditação concentrativa e respiração diafragmática.
No segundo eixo, reestruturação cognitiva (trabalhar construtivamente os pensamentos que causam sensação de estresse). No terceiro, exercícios físicos regulares, prática que libera endorfina e diminui produção de radicais livres, que lesam membranas e aumentam a destruição de neurônios.
No quarto eixo, as mudanças ambientais. “Não é tão fácil mudar o ambiente, mas é importante tentar”, lembra o psiquiatra. E, finalmente, no quinto eixo: mudanças na alimentação. O consumo regular de frutas, legumes, verduras e um complexo multivitamínico confiável (com acompanhamento médico) acaba inativando os radicais livres.
“Se eu não fizer essas mudanças, vai chegar uma hora, depois de meses ou anos, que vou para a fase de resistência-exaustão – não dá pra identificar claramente quando acaba uma e começa a outra”, diz Possendoro.
Consequências
Com a evolução do quadro, começam a surgir sintomas e doenças causadas pelo estresse. Isso porque, em cada situação estressante, o organismo libera uma série de substâncias, sendo as principais o cortisol – o hormônio do estresse – e a adrenalina.
No momento da crise, as substâncias ajudam a diminuir a ansiedade e protegem o corpo. Porém, o “cortisol liberado em doses altas repetidamente prejudica o funcionamento do sistema imunológico, que defende o corpo das doenças e regula as alergias”, diz o psiquiatra.
As conseqüências mais comuns são as alergias freqüentes, as infecções freqüentes, principalmente nas vias aéreas superiores, as gastrites crônicas e a constipação intestinal variável.
Insônia, irritabilidade, dificuldades de potência sexual, pouca lubrificação (no caso das mulheres) e ejaculação precoce são outras reclamações comuns. E o estresse pode ainda desencadear diabetes, hipertensão arterial, dislipidemias (aumento de triglicérios e colesterol) e, embora não haja um consenso entre os médicos, até câncer.
Geraldo Possendoro diz não ter dúvidas de que isso é real, já que nessa fase o sistema imunológico teria muita dificuldade de se defender de células cancerosas. Contudo, desmonta a idéia de bicho de sete cabeças afirmando: “estresse não é uma doença. Estresse não é um sintoma. Estresse é um processo, no qual a pessoa entra e do qual pode sair.”