Estratégias para a prevenção de Alzheimer ainda são um desafio


sexta-feira julho 30, 2010

A busca por novas drogas que possam reverter o curso da doença de Alzheimer tem frustrado as companhias farmacêuticas com os vários fracassos relatados nos últimos anos. Surgiram avanços nas pesquisas: não na forma de novas drogas, mas na de tecnologias que rastreiam a biologia subjacente da doença antes que os primeiros sintomas apareçam.

A capacidade de rastreá-la mais cedo enfatiza o reconhecimento cada vez maior de que a doença começa muitos anos antes de qualquer diagnóstico. Essa percepção colocou nova ênfase na necessidade de medidas preventivas para evitar a principal causa da demência.

Infelizmente, esse entendimento não pode ser imediatamente transformado em uma série de recomendações que uma pessoa de 50 ou 60 anos possa adotar com uma certeza razoável para lutar contra Alzheimer. Em abril, um grupo de especialistas reunido pelo National Institutes of Health – NIH, que incluía gerontólogos, nutricionistas, neurologistas e geneticistas, descobriu que vários postulados de abordagens à prevenção, que vão desde o uso de drogas com receita, suplementos alimentares e distanciamento de toxinas, “não possuem evidências com qualidade científica sequer moderada” para sustentar recomendações de que essas medidas possam ser usadas para deter o avanço da doença. Os especialistas pediram mais estudos que possam identificar os fatores de risco através do acompanhamento de grandes grupos durante toda a vida, prática semelhante ao famoso estudo de Framingham, e também exames padrão-ouro: testes clínicos “aleatórios” que comparam pacientes utilizando determinada abordagem preventiva com um grupo placebo.

A avaliação negativa do grupo sobre os prospectos imediatos para prevenção não soou bem aos ouvidos da Alzheimer Association e de alguns pesquisadores, que enfatizam a necessidade de estratégias preventivas baseadas em estudos preliminares, ainda que não definitivos, que apontam os benefícios de práticas relativas a dieta, atividade física, (qualquer coisa, desde ciclismo até tarefas domésticas) e outras mudanças no estilo de vida. Maria Carrillo, diretora-sênior de relações médicas e científicas da Alzheimer Association, criticou a forma que o grupo utilizou para considerar as evidências de que exercícios físicos possam servir como medida preventiva, que excluía alguns estudos preliminares que claramente sugerem que permanecer fisicamente ativo mantém um funcionamento saudável do cérebro e pode ajudar a reduzir o risco de Alzheimer. “A Associação expressou preocupação com o tom negativo do estudo e suas conclusões”, afirmou ela. “Olhamos para as evidências como se o copo estivesse metade cheio, não metade vazio”.

Outros investigadores fizeram coro à desconfiança de Carrillo. “Nós temos algumas idéias para intervenções que fazem sentido e são seguras”, observa Kenneth Kosik, pesquisador da University of California, em Santa Barbara, e fundador do Cognitive Fitness & Innovative Therapies (CFIT), que auxilia as pessoas no uso de estratégias para prevenir a demência. “Não consigo entender porque alguém não defenderia essas idéias, contanto que sejamos honestos e contemos às pessoas quais são os poréns envolvidos. Não fazer nada com pessoas em alto risco é simplesmente ser niilista”.

Várias medidas parecem proteger contra a demência em estudos epidemiológicos e animais, porém, como o grupo do NIH notou, a evidência pode não ser suficiente para fazer recomendações de saúde específicas. “Nosso trabalho e o trabalho de outros convergiram para um ponto em que exercícios literalmente rejuvenescem cérebros envelhecidos”, nota Carl Cotman, da University of California, em Irvine, que demonstrou resultados dramáticos referentes aos benefícios de atividades físicas em ratos geneticamente modificados para desenvolver uma patologia semelhante a Alzheimer. Cotman apresentou um sumário dessa pesquisa sobre o potencial dos exercícios para a prevenção de Alzheimer ao grupo do NIH.