Doentes renais graves com hepatite C têm exame mais seguro


terça-feira abril 8, 2008

Exame simples pode eliminar risco de hemorragia existente na biópsia e aumentar chances de sucesso após transplante de rim nesse grupo, que não é pequeno


Quase 20% dos pacientes com Doença Renal Crônica (DRC) e em hemodiálise estão sujeitos a perder a vez na fila de transplantes por terem contraído a hepatite C, cujas principais complicações são a cirrose e o câncer de fígado.


Uma opção à exclusão da lista de transplantes seria o tratamento contra a hepatite. Mas isso depende da realização de uma autópsia, exame altamente invasivo e arriscado, que consiste na pulsão do fígado com uma seringa guiada por ultra-som. O risco de complicações é alto. Um acidente, como a perfuração de vasos sanguíneos e conseqüente hemorragia, por exemplo, é superior a 13%.


A médica Renata Eliane de Ávila desenvolveu uma pesquisa na UFMG que analisou uma alternativa promissora. A proposta é a substituição da autópsia pela avaliação dos níveis de uma substância já presente no organismo, o ácido hialurônico (AH), como um novo indicador da necessidade ou não de tratamento contra a hepatite C nesses pacientes.


Segundo Renata, a quantidade de AH no sangue apresenta grande variação durante qualquer processo de cicatrização significativo no corpo humano. Como no caso da fibrose hepática, a “lesão do fígado causadora das complicações da hepatite C”, explica.


O AH foi testado como indicador da fibrose hepática em um grupo de 76 pacientes do Centro de Tratamento e Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias (CTR-DIP) e do Centro de Diálise do Hospital das Clínicas da UFMG. O índice de eficiência do diagnóstico em pacientes com Doença Renal Crônica foi superior a 80%.


Contaminação no tratamento
Um aspecto alarmante levantado pela pesquisa é que a maioria dos casos de contaminação pelo vírus da hepatite C em pacientes com DRC ocorre durante a hemodiálise ou nas transfusões de sangue que podem ser necessárias. Isso revela uma falha na triagem desses processos, “que merece atenção da Vigilância Sanitária”, avalia a pesquisadora.


Além de inviabilizar o transplante de rim, já que os medicamentos pós-transplante agravam o quadro de baixa imunidade, característico da hepatite C, contrair essa segunda doença pode levar à falência do fígado, e, assim, reduzir ainda mais a expectativa de vida desses pacientes.


Relevância científica e social
A autora esclarece que o AH já havia sido testado como marcador da hepatite C em outro estudo realizado na Faculdade de Medicina da UFMG. Mas é a primeira vez que a experiência é feita em pacientes com DRC. “Não havia estudos semelhantes publicados na literatura médica, nacional ou internacional”, afirma Renata Ávila.


Segundo ela, o próximo passo será validar a proposta com a realização de testes em um grupo maior de pacientes. A idéia é propor às secretarias de saúde que substituam a autópsia pela avaliação dos níveis de AH, como critério para indicação do tratamento de hepatite C em pacientes que fazem hemodiálise