Desemprego prejudica saúde de trabalhador e família
sexta-feira maio 9, 2008
Pesquisa avalia impactos do desemprego e do trabalho sem proteção social nas esferas individual e familiar, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de um inquérito do Ministério da Saúde e do Censo Demográfico.
A chance de desempregados avaliarem a própria saúde como ruim é 67% maior do que a de trabalhadores inseridos no mercado de trabalho. A auto-avaliação negativa da saúde é um indicador importante, já que está fortemente relacionada ao risco de morte e de internação hospitalar. Por isso, esta medida tem sido cada vez mais usada em saúde pública como um indicador importante da saúde da população.
A depressão é uma das principais doenças relacionadas ao desemprego e ao chamado trabalho sem proteção social, ou seja, sem carteira assinada ou vínculo com a previdência social. Assim como a cirrose, que ataca o fígado e costuma ser desencadeada pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas.
As constatações estão entre os resultados da pesquisa “Desemprego, trabalho sem proteção social e saúde: uma análise do indivíduo e do contexto”, realizada pela médica Luana Giatti Gonçalves.
A tese de doutorado foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, orientada pela professora Sandhi Maria Barreto, do Departamento de Medicina Preventiva e Social e co-orientada pela professora Cibele Comini César, do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas (Icex) da UFMG.
De acordo com o estudo, apesar de as pessoas desempregadas ou inseridas em trabalho sem proteção social terem apresentado mais problemas de saúde, quando perguntadas se haviam feito uma consulta médica no ano anterior, elas foram as que menos utilizaram os serviços médicos. Por outro lado, quem mais usava estes serviços eram as pessoas empregadas em trabalhos com proteção social, que por sua vez eram as que mais tinham planos de saúde privados.
A pesquisa constatou também que a presença de uma pessoa desempregada no domicílio afetou a saúde dos outros familiares adultos de forma negativa, mesmo que eles estivessem inseridos no mercado de trabalho e independentemente da situação sócio-econômica do domicílio. Em 2003, por exemplo, ter um desempregado em casa aumentava em 10% as chances dos familiares fazerem uma auto-avaliação negativa da saúde.
O estudo mostra ainda que o impacto negativo do desemprego na saúde é semelhante entre moradores de vizinhanças com características sócio-econômicas diferentes. Isso sugere que o desemprego prejudica a saúde tanto de um morador de favela quanto de uma pessoas que mora numa área mais estruturada das cidades.
Banco de dados
A análise foi feita com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, em 1998 e 2003, além de um inquérito domiciliar realizado pelo Ministério da Saúde entre 2002 e 2003 e do Censo Demográfico Brasileiro de 2000.
O universo da pesquisa foi dividido em três categorias. A avaliação dos impactos individuais do desemprego e do trabalho sem proteção social envolveu homens da população economicamente ativa, com idade entre 15 e 64 anos, das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza e Recife, no total de 31.870 homens, em 1998, e 32.888 em 2003.
Na segunda etapa, quando foi feita a análise do contexto domiciliar, a pesquisa se estendeu para homens e mulheres economicamente ativos e inativos, das mesmas oito regiões metropolitanas, totalizando 85.384 pessoas em 1998 e 89.063 em 2003.
Já na terceira e última etapa, que avaliou a influência do local de moradia nos impactos do desemprego, foram estudadas 6.426 pessoas com idade entre 15 e 64 anos, de ambos os sexos, de quatro capitais brasileiras: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza e Rio de Janeiro