Falta de ar em crianças: causas, mitos e prevenção


quarta-feira junho 1, 2011

O que é a falta de ar? Falta de ar é um sintoma que pode estar presente em várias doenças respiratórias, cardíacas e até mesmo em doenças do sangue, como anemias.


 


Quais são os sintomas?


Respiração mais curta e rápida, ofegante, aumento da frequência respiratória (número de respirações por minuto), podendo até ter chiado no peito (aquilo que o médico chama de sibilos).


 


Nas crianças, o que causa a falta de ar? Que doenças podem causar o sintoma?


Nas crianças a falta de ar é causada principalmente por infecções ou doenças que causem obstrução dos brônquios, como pneumonias, broncopneumonias, bronquiolite e asma. Mas é muito importante saber diferenciar a verdadeira falta de ar de outros processos que apenas dificultam a passagem de ar pelas narinas, mas não impedem uma adequada função das trocas gasosas nos pulmões.


 


Bebês podem sentir falta de ar? Como perceber os sintomas da criança que ainda não sabe falar?


Sim, a falta de ar pode acontecer até mesmo nos bebês. Geralmente na presença da falta de ar a criança aumenta a frequência respiratória (respira mais vezes por minuto do que o que seria normal para sua faixa etária), começa a respirar com mais dificuldade, pode ter chiado no peito (aquele chiado fino, como “gatinho”), tosse e passa a ter sintomas mais inespecíficos, como dificuldade para mamar ou se alimentar, dificuldade para dormir ou até mesmo ficar mais sonolento.


 


Crianças com falta de ar devem ter mais cuidado do que as outras ao fazer atividades como nadar ou brincar?


Se a criança está doente e apresenta o sintoma de falta de ar, deverá, sim, ficar temporariamente afastada das atividades esportivas e que intensifiquem a falta de ar até que esteja recuperada e possa voltar a fazer suas atividades diárias.


 


Em que idade é mais frequente a criança sentir falta de ar?


A falta de ar pode acontecer em qualquer idade, mas geralmente quanto mais jovem é a criança, maior é a chance de evoluir para uma insuficiência respiratória. O sistema respiratório das crianças mais jovens é ainda mais propenso a evoluir com falência dos músculos respiratórios, especialmente abaixo dos 2 anos. Esse quadro é ainda mais intenso nos bebês prematuros, por ser agravado pelas alterações decorrentes da prematuridade.


 


É normal a frequência aumentar em dias com o tempo seco?


Nos dias secos aumenta a poluição ambiental, e para complicar coincide com o período de inverno, em que há uma maior sazonalidade das infecções virais e bacterianas respiratórias. Além disso, há o desconforto que o ar seco pode causar, que, somando-se ao frio (geralmente a época de seca coincide com os dias mais frios do ano por ser no inverno), pode ser um importante desencadeante de crise de asma em indivíduos predispostos.




Como o médico realiza o diagnóstico?


É preciso fazer a anamnese e o exame físico para tanto.


 


Tem como prevenir a falta de ar?


No caso da asma, por exemplo, se o paciente tem indicação de usar medicamentos preventivos, sim.


 


A sabedoria popular diz que passar descongestionantes feitos de cânfora, mentol e óleo de eucalipto nos pés da criança e depois calçá-los com meia faz a criança ter menos falta de ar. Isso é verdade? E quanto a umidificar o ambiente colocando uma bacia de água com o descongestionante no quarto?


O uso de substâncias com odor forte pode causar uma maior irritação dessas vias aéreas que já estão alteradas, e com isso piorar ainda mais. É contraindicado o uso de substâncias com odor forte, que inclusive poderão agravar o quadro preexistente. Essas substâncias não devem ser colocadas na pele do doente e nem devem ser inaladas, pois podem causar sérios agravos à saúde. Umidificar o ambiente nos dias em que a umidade relativa do ar está baixa, assim como umidificar as vias aéreas com soro fisiológico (isotônico a 0,9%), pode ser interessante, sim, mas sem acrescentar odores que irritam ainda mais as vias aéreas e sem se exceder nessa umidificação, já que o excesso de umidade também favorece a proliferação de fungos (mofo) que são maléficos ao sistema respiratório.


 


Qual deve ser o procedimento a ser tomado quando a criança tem uma crise de falta de ar?


A criança deve ser avaliada pelo seu pediatra. Se o quadro for recorrente ou reincidente, os pais devem procurar um pneumologista pediátrico (pediatra com especialização em pneumologia).


 


Como é o tratamento para a falta de ar?


O tratamento vai depender da causa da falta de ar.


 


Quando o médico deve ser procurado?


Caso a criança não melhore com o tratamento que o pediatra prescreveu, é recomendável que o paciente seja avaliado por um especialista, ou caso essas crises sejam recorrentes também. Em algumas famílias há uma comum confusão de falta de ar com problemas relacionados às vias aéreas superiores, e neste caso o melhor especialista para avaliar a criança será um otorrinolaringologista. Quando a criança tem uma obstrução dessas vias aéreas superiores, há com frequência a sensação de um “ronc-ronc” no tórax da criança, que muitas famílias interpretam erradamente como chiado no peito.


 


Dra. Marina Buarque de Almeida é Pneumologista Pediátrica Mestre e Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Presidente do Departamento de Pediatria da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia.  CRM 83146