Esperança contra a DENGUE


terça-feira abril 1, 2008

A ciência aposta suas fichas no desenvolvimento de uma vacina capaz de combater de uma tacada só os quatro vírus que causam a doença


A luta contra a dengue nunca pareceu tão difícil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que desde 2000, ou seja, em apenas sete anos, ao menos 1 milhão de pessoas em todo o planeta tenham sido infectadas com o vírus culpado pela doença. E nada menos do que a metade dessas vítimas desenvolveu a forma fatal, a chamada dengue hemorrágica.


 Para tentar mudar o quadro, inúmeros grupos de cientistas mundo afora dedicam tempo, dinheiro e esforços na fabricação de uma vacina. Aliás, uma supervacina. A idéia é que ela dê cabo dos quatro subtipos a um só tempo.


O mal acomete sobretudo as populações de países quentes e onde existe pobreza, como o Brasil, entre outros da América do Sul, da África e da Ásia. E, por enquanto, não exibe sinais de trégua. “O mosquito está tão adaptado aos ambientes doméstico e urbano que resiste a larvicidas e inseticidas e, no primeiro vôo, já é capaz de copular e infectar. A vacina é a esperança da ciência no controle da doença”, explica Ada Maria Alves, do Laboratório de Imunopatologia da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, uma das pesquisadoras brasileiras envolvidas nesse projeto.


Há pouco mais de dois meses, a Sanofi-Pasteur, divisão da companhia francesa Sanofi-Aventis, anunciou resultados positivos com sua vacina em seres humanos. “Ela levou à produção de anticorpos contra os quatro sorotipos responsáveis pela dengue em 100% dos adultos que foram voluntários nos Estados Unidos”, relata Jean Lang, diretor de vacinas endêmicas do laboratório europeu. “Isso demonstra seu potencial de proteção.”
O grande desafio — e também a grande dificuldade — é justamente fabricar um imunizante contra os quatro tipos do microorganismo. “Quem é infectado por uma das variedades torna-se mais suscetível às outras linhagens e também ao dengue hemorrágico”, justifica a cientista carioca. “Ou seja, temos de criar uma vacina que proteja simultaneamente contra os quatro subtipos ou pouco adiantará.” Os testes clínicos em larga escala da nova vacina devem começar em 2008. “Esperamos submetê-la à apreciação das autoridades de saúde em 2012”, revela Lang. Enquanto essa arma contra a doença não chega ao mercado, só resta uma saída: a prevenção.


O Brasil praticamente já tinha conseguido eliminar de seu território o mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti. “A febre amarela urbana, transmitida pelo mesmo inseto, motivou uma gigantesca operação de guerra, que levou à sua eliminação em 1955”, conta Ada Maria Alves, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio. Mas, passado um tempo, infelizmente, houve um afrouxamento nas campanhas. Some-se a isso a expansão das favelas nos centros urbanos. Para piorar, países fronteiriços com o Brasil, caso da Venezuela, não aderiram à proposta da Organização Panamericana de Saúde (Opas) para o extermínio do inseto. Resultado: o Aedes, que já não era esperado, voltou a dar as caras. “Hoje não é mais possível falar em erradicação do mosquito”, lamenta Brunislava de Castro, coordenadora do Programa de Combate a Dengue da Prefeitura de São Paulo.


NÃO DURMA COM O INIMIGO
Pois é, cuidar do macroambiente é missão impossível para as populações das áreas afetadas pelo inimigo. Mas, como ressalta a pesquisadora da Fiocruz, todos nós podemos (e devemos) controlar o microambiente, ou seja, a nossa casa. Você sabe: o Aedes coloca seus ovos na parede de recipientes com água parada limpa, como vasos e garrafas PET, mas eclodem mesmo é na superfície do líquido. “Noventa por cento dos criadouros estão no âmbito doméstico”, alerta Brunislava.


De acordo com Ada Maria, o mosquito mostra outra faceta perigosa: “Embora precisem da água, os ovos são capazes de resistir bravamente à falta dela por até seis meses e, ao primeiro contato com o conteúdo que foi se acumulando em pneus e vasilhames, eclodem”. A mudança gradual do clima é outro fator por trás do aumento no número de casos de dengue. “São Paulo, por exemplo, registrou em 2007 seu recorde histórico: 80 893 doentes confirmados”, revela a coordenadora da Secretaria Municipal da Saúde. Segundo Brunislava, as temperaturas elevadas encurtam o ciclo de evolução do inseto, ao passo que a maior incidência de chuvas enche cada vez mais os criadouros. “A grande frente de batalha agora é dentro de casa. Se cada um cuidar de seu ambiente, evitando que o mosquito se prolifere, estaremos fazendo muito contra a doença”, afirma.



A FORMA FATAL DA DOENÇA
O crescimento do tipo hemorrágico é paralelo ao aumento do número de casos da dengue clássica. Ainda não se sabe ao certo por que algumas pessoas desenvolvem essa forma da doença. “A única certeza é que já ter sido contaminado por um dos tipos do vírus torna o paciente mais vulnerável à moléstia transmitida por outra das três variedades restantes”, conta Ada Maria Alves. “Noventa por cento dos que são infectados pela segunda vez desenvolvem a versão hemorrágica, uma reação exacerbada do sistema imune contra o microorganismo que pode até levar à morte.”


O INTRUSO NO BRASIL
 A região Centro-Oeste registrou em 2007 a mais alta incidência de casos — 811 doentes em cada 100 mil habitantes. Mas foi o Sudeste que apresentou o maior aumento de vítimas em relação a 2006: 35%. São Paulo teve 80 893 doentes, sendo 62 casos de febre hemorrágica e 16 mortes. Aliás, foi o estado que liderou a dengue em 2007.


RAIO X DO MOSQUITO
Quem transmite a dengue é a fêmea do Aedes aegypti, que se alimenta de sangue. Diferentemente de outros mosquitos, ela é ativa também durante o dia e não se satisfaz com uma única refeição, podendo contaminar várias pessoas a cada vôo, cujo alcance, aliás, é baixo — entre 100 e 500 metros. Durante o ciclo de vida, que dura cerca de um mês, chega a picar até 300 pessoas.



A luta contra a dengue nunca pareceu tão difícil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que desde 2000, ou seja, em apenas sete anos, ao menos 1 milhão de pessoas em todo o planeta tenham sido infectadas com o vírus culpado pela doença. E nada menos do que a metade dessas vítimas desenvolveu a forma fatal, a chamada dengue hemorrágica.


 Para tentar mudar o quadro, inúmeros grupos de cientistas mundo afora dedicam tempo, dinheiro e esforços na fabricação de uma vacina. Aliás, uma supervacina. A idéia é que ela dê cabo dos quatro subtipos a um só tempo.


O mal acomete sobretudo as populações de países quentes e onde existe pobreza, como o Brasil, entre outros da América do Sul, da África e da Ásia. E, por enquanto, não exibe sinais de trégua. “O mosquito está tão adaptado aos ambientes doméstico e urbano que resiste a larvicidas e inseticidas e, no primeiro vôo, já é capaz de copular e infectar. A vacina é a esperança da ciência no controle da doença”, explica Ada Maria Alves, do Laboratório de Imunopatologia da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, uma das pesquisadoras brasileiras envolvidas nesse projeto.


Há pouco mais de dois meses, a Sanofi-Pasteur, divisão da companhia francesa Sanofi-Aventis, anunciou resultados positivos com sua vacina em seres humanos. “Ela levou à produção de anticorpos contra os quatro sorotipos responsáveis pela dengue em 100% dos adultos que foram voluntários nos Estados Unidos”, relata Jean Lang, diretor de vacinas endêmicas do laboratório europeu. “Isso demonstra seu potencial de proteção.”