Cuidando dos seus olhos
terça-feira fevereiro 19, 2008
Em Formato de Cone
Uma pessoa em 2 mil apresenta risco de ter ceratocone – uma condição que ainda assusta muita gente pela falta de informação.
Ela costuma ser diagnosticada depois da progressão muito acelerada de um ou mais problemas de visão, geralmente o astigmatismo irregular. Ficar cego é o temor mais freqüente diante da perda de visão, que aparece durante a adolescência ou no começo da vida adulta.
Por algum motivo – ainda desconhecido – as células da córnea se programam para morrer. Neste local, o tecido fica mais fino e, sob ação da pressão interna do olho, ele se projeta para a frente, formando um cone. De primeira, ceratocone soa estranho aos ouvidos. E, talvez por isso, assuste tanto. Mas, entendendo os radicais que formam a palavra, você mata a charada. Em grego, keratos significa córnea, e conus, o formato de cone. Deformada, a córnea não serve mais como boa superfície refratora da luz, e a acuidade visual fica prejudicada.
Não há como reverter esse processo. O que pode ser feito é buscar a estratégia mais adequada para melhorar a qualidade de vida do portador dessa condição. A correção costuma ser óculos ou lente de contato.
Causas do ceratocone
Mas, afinal, o que provoca essa doença? As pesquisas científicas não chegaram a nenhuma conclusão. Estudos apontam uma possível relação entre processos alérgicos e ceratocone. O problema maior está quando essa alergia provoca coceiras intensas no olho. Se o paciente tem curvatura maior que o padrão e é coçador de olho, é preciso tirar essa alergia com medicamentos antialérgicos. Senão, os riscos de machucar a córnea são mais altos.
De alguma forma, também existe uma influência genética. Portanto, filhos de portadores de ceratocone precisam ficar mais atentos ao problema. E quanto mais cedo ele for detectado, melhor. Isso porque, às vezes, o tratamento da miopia ou do astigmatismo corrige a falha de visão, mas pode prejudicar a córnea com lentes muito apertadas ou muito soltas. Assim, se o paciente souber que existe essa irregularidade na córnea desde o início, o cuidado com a adaptação das lentes será muito mais minucioso. Com o avanço de equipamentos, como aquele que faz topografia de córnea, tem sido cada vez mais fácil chegar a um diagnóstico precoce.
Óculos, lente ou transplante?
Essa escolha vai depender da gravidade da doença. Levando em conta as medidas do cone e as condições da córnea, o ceratocone percorre uma escala que vai de I a IV. Para a turma do primeiro grupo, com cones de até 47 D (dioptrias), o mal é incipiente, também chamado frusto. Algumas vezes, nem aparecem problemas de visão. Geralmente, os candidatos às lentes estão no grupo com doença entre os de grau II, com cones de 47,25 a 50,00 D, e III, cujas medidas vão de 50,25 a 54,00 D. Para aqueles com protuberâncias com mais de 54,25 D, o transplante é a opção mais freqüente.
Segundo o CLEK (Collaborative Longitudinal Evaluation of Keratoconus, as lentes rígidas melhoram as condições de visão na maioria dos casos, (74% dos pacientes). Elas são do tipo gás-permeável, ou seja, permitem que mais oxigênio chegue até a córnea. Entre essas lentes, há uma característica importante, o DK. Numa escala que vai de 16 a 160, quanto mais alto o índice, maior será a permeabilidade. Nesse mercado das gás-permeáveis, encontram-se as fluorcarbonadas e as siliconadas. Em geral, as primeiras têm melhor desempenho que as últimas nesse quesito. Mas as lentes rígidas podem ainda ser híbricas, feitas com alguma porcentagem de hidroxietilmetacrilato (HEMA), o mesmo material de que são feitas as gelatinosas e, por isso, mais confortáveis. Ou ainda de acrílico (HMMA), matéria-prima mais tradicional.
Uma vez que se optou pelas rígidas, a adaptação pode levar algum tempo, porque é complexo encontrar o desenho ideal da lente – que ser a mais esférica possível – e ajustá-lo à córnea – que tem uma ou mais saliências na superfície. São feitos diversos testes antes de definir o tamanho e o formato da lente e suas bordas. Uma das verificações é feita com uma anilina especial, a fluoresceína. O filme lacrimal formado entre a lente e o olho é tingido com essa substância. Sob a luz violeta, ela fica fluorescente e revela se a lente está muito justa ou muito frouxa no olho do paciente.
Esses cuidados são importantes, pois a lente precisa de boa mobilidade, ou seja, o movimento que ela faz durante o abrir e fechar da pálpebra não deve machucar a córnea.
Por isso, é muito importante fazer um acompanhamento nas primeiras semanas de utilização da lente para garantir o melhor formato. Para o usuário, o primeiro passo é aprender o manuseio do material – colocar, tirar, limpar. São visitas quase semanais ao profissional de oftalmologia. Depois, os encontros ficam semestrais e, em casos mais estabilizados, anuais.
Se o ceratocone estiver em estágios iniciais, as gelatinosas se apresentam como mais uma opção. Por serem mais confortáveis, têm uma adaptação mais simples. Nessa categoria, existem ainda lentes de dupla face, que são mais fechadas na região central e com bordas mais planas.
Desde 1996, uma outra opção ilumina o final do túnel dos portadores desse mal: o anel de Ferrara. É uma cirurgia pouco invasiva que implanta um ou dois semicírculos de acrílico na córnea do paciente. Eles aplanam a superfície do tecido, deixando-a mais esférica, melhorando as condições de visão. Ainda não existem pesquisas clínicas conclusivas sobre a eficácia e a segurança dessa técnica.