A difícil tarefa de tratar a obesidade sem medicamentos


quarta-feira fevereiro 16, 2011

Atualmente temos muito poucos remédios para o tratamento da obesidade e aparentemente vamos perdê-los todos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária já vem anunciando a sua intenção de retirar do mercado todos os medicamentos para o tratamento da obesidade que atuem no Sistema Nervoso Central. Acontece que a fome e a saciedade ocorrem no cérebro e todos os medicamentos com algum efeito real no tratamento da obesidade atuam nesse local.


A questão levantada pela Anvisa é a mesma das demais agências reguladoras de medicamentos do mundo: os possíveis efeitos colaterais dessas drogas. Esses efeitos seriam mais arriscados do que os benefícios das mesmas. Essa afirmação tem sido questionada pela maioria das sociedades médicas mundiais que tratam as pessoas com sobrepeso e obesidade.


Na verdade, todos os medicamentos podem causar efeitos colaterais. Quando usamos um medicamento nós pesamos os riscos e benefícios. Basta olharmos as bulas dos antibióticos, anti-inflamatórios, analgésicos, antidepressivos, anticonvulsivantes, redutores de colesterol, anti-hipertensivos… Todos são passíveis de efeitos colaterais. Eles devem ser usados com critérios, seu uso deve ter a vigilância apropriada, mas nem por isso devem ser suspensos do mercado.


A obesidade é vista como uma falta de força de vontade e não como uma doença. Uma fraqueza, uma desorganização da vida pessoal, onde a pessoa não consegue se controlar. Quase um desvio de conduta. É claro que essa visão preconceituosa da obesidade tira dela o crivo de uma doença crônica e grave, muito diferente do tratamento rigoroso dedicado à hipertensão arterial, ao diabetes, às doenças do excesso de colesterol e tantas outras. Essas doenças são agraciadas com múltiplas drogas que saem no mercado todos os anos, de maneira que podemos escolher qual delas usar.


Para a obesidade a coisa é muito mais difícil. Temos poucos medicamentos eficazes e provavelmente eles serão retirados do mercado, deixando-nos sem opções no tratamento dos pacientes obesos. Resta-nos apelar pela força de vontade deles, como se eles fossem doentes “pela falta de força de vontade”.


O tratamento da obesidade depende de um conjunto de fatores que envolvem mudanças no estilo de vida, políticas de saúde, regras mais rigorosas para a industrialização, comercialização e publicidade dos alimentos e combate ao sedentarismo. Além disso, ela requer o uso de medicamentos, como qualquer outra doença crônica.