Prisão de ventre: mulheres sofrem mais que os homens


quarta-feira outubro 13, 2010

Pode parecer um problema banal e sem importância, mas na verdade constipação intestinal é um problema. Dados americanos indicam que ela é a queixa digestiva mais comum na população geral, sendo responsável por cerca de 2,5 milhões de visitas médicas, pelo gasto de vários milhões de dólares com laxantes e, indiretamente, por 92 mil hospitalizações anualmente. Isso sem contar que a constipação propriamente dita pode ser um sintoma inicial de doenças graves, como por exemplo, o câncer do cólon e do reto que é o quinto câncer mais freqüente entre os homens e o quarto entre as mulheres no Brasil.



Um estudo brasileiro realizado em Pelotas, RGS, procurou, ineditamente, estimar a prevalência de constipação intestinal e fatores associados entre adultos de 20 anos ou mais. Constipação intestinal foi definida de acordo com o consenso prévio que incluía seis critérios: esforço ao evacuar, fezes endurecidas ou fragmentadas, sensação de evacuação incompleta, sensação de obstrução ou bloqueio anorretal, manobras manuais para facilitar as evacuações e menos de três evacuações por semana. A presença de dois ou mais desses critérios nos últimos seis meses caracterizou a presença de constipação intestinal.



Na pesquisa os indivíduos foram orientados para que respondessem às perguntas sobre o funcionamento intestinal natural, ou seja, sem o uso de laxantes, chás ou qualquer outro tipo de ajuda. Quanto aos resultados a prevalência de constipação intestinal encontrada foi de quase 27%. As mulheres apresentaram 2,5 vezes mais constipação que os homens, ou seja, 37% para as mulheres contra 14% para os homens.



E isso tem explicação ou, melhor dizendo, explicações que incluem as alterações hormonais próprias do sexo feminino, já que o aumento dos níveis de estrogêno durante parte do ciclo menstrual se associa a um tempo de trânsito intestinal mais prolongado. Outro fator importante diz respeito às diferenças comportamentais entre os sexos. Desde a infância, o cuidado por parte das meninas em utilizar banheiros desconhecidos pode contribuir para que estas se tornem mais propensas a ignorar o reflexo evacuatório normal. Até mesmo histórias de abuso sexual, físico e emocional, mais freqüentes no sexo feminino, podem estar envolvidas em alguns distúrbios funcionais do sistema digestivo.



Um fato curioso é que ao contrário dos homens, quanto maior a idade menor a presença de obstipação. Para as mulheres, o envelhecimento parece exercer uma proteção contra a obstipação, mostrando que nem tudo piora com o passar dos anos. E que algumas pressões até desaparecem.



(Collete et al. Prevalência e fatores associados à constipação intestinal: um estudo de base populacional em Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, 2007. Cad. Saúde Pública 26(7),2010)