Os riscos da automedicação


terça-feira abril 6, 2010

A automedicação é um sério problema em diversos países, entre eles o Brasil. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o percentual de internações hospitalares ocasionadas por reações ao mau uso de medicamentos é superior a 10%. No Brasil, 80 milhões de pessoas têm o hábito de se automedicar, segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma). Outro número surpreendente foi dado pelo Centro de Assistência Toxicológica da Universidade de São Paulo (Ceatox-USP): 40% das internações por intoxicação são decorrentes, também do uso indiscriminado de remédios. Um exemplo bastante comum é a ingestão frequente de medicação principalmente para dores de cabeça e febre. Algumas substâncias usadas em analgésicos e antitérmicos, com ação anticoagulante, podem gerar hemorragias internas e afetar o estômago. Segundo Paulo Celso Moreira, cardiologista e membro da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), outra medicação frequentemente tomada sem orientação médica são os diuréticos, que podem levar a graves complicações como desidratações, hipotensão, hipopotassemia e arritmias. Combinar dois ou mais medicamentos sem orientação médica ou alterar as doses previamente estabelecidas, por conta própria, também podem causar sérios problemas, afirma o especialista. Um exemplo são os remédios para emagrecer combinados a antidepressivos, que provocam cardiopatias. Outras drogas, se tomadas com doses aumentadas, alteram a pressão e elevam o risco de enfarte. Paulo Celso relata que, na prática clínica, é bastante comum o uso abusivo e contínuo de anti-inflamatórios não hormonais, que aliviam a dor e a inflamação, porém acarretam inúmeros danos à saúde e ao tratamento. “A maioria de nossos remédios pode matar se usados de forma inadequada ou excessiva. Um exemplo disso é a medicação usada para aumentar o poder de contração do músculo cardíaco, os digitálicos. A intoxicação leva o paciente à anorexia crescente, seguida de náuseas e vômitos. Posteriormente, aumentam as arritmias cardíacas de maior complexidade, até as potencialmente fatais”, adverte o especialista. Uma solução para reduzir os riscos da automedicação seria um maior rigor na venda destas substâncias, com retenção das receitas nas farmácias, sugere Paulo. “Entretanto, a maioria dos medicamentos é vendida livremente, sem nem precisar de prescrição médica”.