Brasil deu exemplo na luta contra a Aids, diz Nobel de Medicina


terça-feira outubro 14, 2008

A virologista francesa Françoise Barré-Sinoussi, 61, uma das vencedoras do Prêmio Nobel de Medicina deste ano, elogiou a política do governo brasileiro de distribuição gratuita de medicamentos contra a Aids. “Em nível internacional, as iniciativas do Brasil são louváveis. O país lutou muito para defender a utilização dos genéricos”, disse a cientista.


O Brasil defende a quebra de patentes de medicamentos usados no tratamento da doença, baseando-se nas diretrizes da OMC (Organização Mundial do Comércio). “O Brasil deu o exemplo”, acrescentou Barré-Sinoussi, durante uma coletiva de imprensa na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em Paris.


Barré-Sinoussi divide o Nobel com seu ex-chefe, Luc Montagnier, 76, pela descoberta do HIV, em 1983.


Montagnier lembrou, no entanto, que o país possui muitos doentes “não-declarados”. “A questão da prevenção e do tratamento também é cultural. Muitas pessoas não querem saber se têm o vírus e se recusam a fazer o teste. Por isso é preciso calcar os esforços em vigilância, pesquisa e prevenção.”


Montagnier disse esperar que, apesar do contexto econômico desfavorável, o prêmio sensibilize governo e empresas, atraindo novos financiamentos.


“Nosso trabalho não está terminado. Ainda não temos uma vacina para prevenir a infecção ou uma para lutar contra ela. Este prêmio nos encoraja a ir até o fim”, afirmou. O virologista é um defensor da vacina terapêutica, que poderia ser uma alternativa aos pacientes que desenvolvem resistência ao tratamento com drogas antirretrovirais. Ele voltou a afirmar que é possível obtê-la dentro de dois ou três anos. Isso se os testes clínicos nas fases 1 e 2, ainda não iniciados, forem bem-sucedidos.


Barré-Sinoussi, entretanto, disse à Folha que não há previsões para o lançamento de uma vacina. “Houve muitas tentativas, muitos fracassos. É preciso ter um certo distanciamento e entender a importância de retornar à pesquisa básica, que envolve virologia e genética, para entender ainda melhor o funcionamento do vírus.”