Câncer mata mais rápido no país, diz estudo
terça-feira outubro 7, 2008
O câncer mata mais rápido no Brasil do que em países desenvolvidos, afirma pesquisa britânica inédita. O baixo número de brasileiros que sobrevivem por pelo menos cinco anos após o diagnóstico colocou o país nas últimas posições do ranking de sobrevida de quatro tipos de câncer.
Coordenada pelo epidemiologista britânico Michel Coleman, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, a pesquisa analisou dados sobre tumores de mama, próstata, cólon e reto diagnosticados entre 1990 e 1995 em 1,9 milhão de pessoas de 31 países.
Inédito pela abrangência, o estudo mostrou que regiões de alto grau de desenvolvimento, como Estados Unidos, Canadá, Japão e Europa Ocidental têm taxas de sobrevida bem superiores às verificadas no Leste Europeu, no Brasil e na Argélia (único representante africano, que apresentou as piores taxas em todos os tipos de câncer).
Cuba, que ao lado do Brasil é o único latino-americano no estudo, foi a exceção. Seu bom desempenho, porém, pode estar superestimado devido a problemas com a qualidade dos dados fornecidos, diz Coleman.
No caso do câncer de mama, a taxa de sobrevida variou de 38,8% a 84% nos diferentes países. O Brasil ficou na 29ª posição, com 58,4%. A variação também foi bastante ampla no câncer de próstata (de 21,4% a 91,9%), cólon (de 30,6% a 61,4% entre as mulheres e de 11,4% a 63% entre homens) e reto (de 18,2% a 63,9% entre as mulheres e de 25,9% a 59,2% entre os homens). Em quase todos os casos, o Brasil está entre os dez últimos colocados.
Para o diretor-geral do Inca (Instituto Nacional do Câncer), porém, o desempenho brasileiro não é tão ruim. “A pesquisa compara o Brasil basicamente com países de alto desenvolvimento”, diz Luiz Santini.
Outro ponto que pode ter prejudicado o desempenho do país é a precariedade de informações sobre os casos da doença. Segundo Sergio Koifman, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, que participou do estudo, no caso brasileiro foram utilizados dados de apenas 1.723 pacientes das cidades de Campinas e Goiânia, as duas únicas que mantinham registros da doença dentro dos padrões necessários para a comparabilidade internacional.
Ele diz, porém, que o mau desempenho não pode ser atribuído apenas à questão dos dados. “O Brasil enfrenta problemas de diagnóstico tardio que diminuem muito a sobrevida.”
Para Célia Tosello, responsável pela oncologia clínica do IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer), a demora para o diagnóstico está ligada à questão cultural e à falta de preparo de profissionais.
“Infelizmente, grande parte da população não dá a devida atenção à saúde. Muitos preferem se automedicar”, diz.
Gulnar Azevedo, do IMS (Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), destaca ainda que a sobrevida no Brasil também é prejudicada pelo intervalo entre diagnóstico e tratamento. “Muitos são diagnosticados no início da doença, mas precisam esperar na fila.”
Todos dizem acreditar que o desempenho brasileiro vá melhorar na próxima pesquisa, com casos diagnosticados entre 1995 e 2005. Além da incorporação dos registros de outras cidades, devem pesar as melhorias recentes no acesso ao diagnóstico e ao tratamento.