Fazer auto-diagnóstico de doença pela internet pode ser má idéia
sexta-feira outubro 3, 2008
Experiência confirma: rede não substitui de modo algum a opinião médica.
Por outro lado, é ótima fonte de informação quando se sabe o que procurar.
Médicos que tratam de si mesmos podem ser tolos como pacientes, mas eles parecem gênios quando comparados a uma repórter que tentou diagnosticar a si mesma pela internet.
Parecia tão simples. Busquei “dor no pé” no Google e apareceram dois sites com pequenas fotos de pés, flechas apontando em diversas direções e instruções para “clicar onde dói.” Eu cliquei, e voilà! Ambos os sites disseram que minha dor – na parte de cima e lateral do pé, em volta do dedão – era provavelmente de um inchaço, distensão ou gota.
Gota? Hmmph. O que veio à minha mente foi Henrique VIII, a versão do cinema, enormemente gordo e grotesco em seu trono, reclamando de seu dedo. Quanto aos inchaços, não seriam eles de meus sapatos pontudos, saltos altos, uma história de família? Eu não tinha nenhum desses dois problemas. Isso não estava ajudando muito.
Segui clicando. Vi uma apresentação de slides com repulsivas doenças de pé que eu claramente não tinha. Listas de outras doenças também não casavam. Não sofro de diabetes ou pés chatos e não havia machucado a mim mesma. Um site mencionou lepra, algo dramático mas improvável. Eu estava desconcertada.
Um podólogo, recomendado por um médico conhecido, levou cerca de 37 segundos para descobrir o que estava errado. Ele puxou meu dedão para cima e para baixo, deu-lhe um apertão que me fez gritar e disse complacentemente, “Vamos tirar alguns raios-X, e mostrarei a você o que está causando sua dor.”
Alguns minutos depois, lá estava em sua tela de computador: uma espora, apontando para cima como um pequeno e diabólico espinho bem onde o dedão se junta ao resto do pé. A causa era artrite do dedão, o que soa ridículo mesmo para mim. Mas é real, um desgaste da cartilagem que normalmente impede os ossos de raspar uns nos outros. Eu sempre andei bastante – pelo menos três milhas por dia, muitas vezes o dobro disso ou mais nos últimos anos – e, aos 56, acho que estou pagando o preço. Sem perceber, estive desgastando meus pés.
O nome médico para essa condição é hallux limitus, que significa “dedo duro”. É progressivo e pode evoluir para hallux rigidus – um dedo realmente duro. É humilhante ser atacada por uma condição que soa tão cômica.
O podólogo recomendou sapatos com sola dura e arredondada, os chamados sapatos ortopédicos, para minimizar a dobra da junta. Descobri que eu também precisava de um monte de espaço no dedão, para evitar a pressão sobre a espora. Ele disse que uma injeção de cortisona na junta poderia ajudar. (Não ajudou.) Ele também sugeriu a colocação de palmilhas maiores nos sapatos, mas eu estava cética porque já havia feito uma cirurgia no joelho e temia que as palmilhas pudessem tirar meu joelho do lugar.
Finalmente, ele disse que eventualmente eu precisaria de cirurgia para remover a espora e encurtar um osso. Ele disse que poderia fazer isso ali mesmo em seu consultório, e quanto antes, melhor. Naquele ponto, se eu conseguisse correr, provavelmente teria feito isso. Em vez disso, concordei polidamente com a cabeça e disse que iria pensar a respeito da cirurgia. Mas soava drástico demais.
Voltei para a internet. O auto-diagnóstico havia sido uma causa perdida (teria me dado melhor se tivesse buscado “dor no dedão”), mas pelo menos era não-invasiva. E saber o nome da doença fez uma grande diferença. Entre outras coisas, a Internet me animou ao revelar que hallux limitus também é chamada de “doença winkle pickers” (winkles são lesmas, em Inglês, e na Inglaterra, “winkle pickers” costumava ser um apelido para sapatos pontudos, se é que isso faz algum sentido). Infelizmente, também descobri que algumas vezes a doença pode ser imobilizadora. Três dos links mais úteis foram Arthritis Practitioner (www.arthritispractitioner.com, busque por hallux limitus), eMedicine (www.emedicine.com/orthoped, clique em “foot and ankle”) e Foot Physicians (www.footphysicians.com, clique em “foot and ankle information”).
Parte da informação repetiu os conselhos do podólogo sobre sapatos, e através da tentativa-e-erro acabei encontrando um tipo que parecia minimizar a dor – tamancos com solas firmes e a parte de cima macia. Estão longe de ter estilo, mas andar mancando é pior.
O médico número 2 é um cirurgião ortopédico, que também queria operar. Quando hesitei, ele forçou um sorriso e disse, “Quando doer o bastante, você voltará.” Não, não vou! Eu queria explodir, mas não o fiz. Ele foi embora antes mesmo que eu pudesse perguntar quantos dedos ele havia reparado ou qual era sua taxa de sucesso. Manquei até minha casa, sentindo-me uma fraca.
O medico número 3 ofereceu-se para injetar um medicamento lubrificante de juntas dentro do meu dedo. Isso soava promissor, mas me acovardei, em parte porque o remédio era aprovado para joelhos e não para dedos, e também porque custaria US$2.800, mas principalmente porque o nariz do médico escorria constantemente e ele deixava que pingasse por todo lado – incluindo sobre um formulário de consentimento explicando o risco de infecção pelo tratamento.
De volta à web, descobri inúmeros companheiros sofredores. Os fóruns de pacientes me deixaram fascinada, especialmente aqueles onde as pessoas comparavam notas sobre cirurgia (www.healthboards.com, busque por hallux limitus; e www.foot.com, clique em “foot cafe”, então “message boards”, e busque por hallux limitus). Alguns relatavam bons resultados, mas outros prefeririam nunca ter feito a cirurgia – o suficiente para reforçar minhas idéias sobre o adiamento. Fotos de cirurgias também me desmotivaram (www.mdmercy.com, busque por hallux rigidus). Além disso, não fui capaz de encontrar um relatório convincente sobre taxas de sucesso, que são difíceis de classificar porque há diferentes tipos de hallux limitus e diferentes operações.
Então, fiquei fuçando por cerca de um ano, andando um pouco menos, usando um pouco mais a bicicleta, calçando sapatos desalinhados e esperando que, mesmo não melhorando, meu pé talvez não piorasse. Recentemente, por insistência de meu clínico geral, fui ver o médico número 4, um podólogo especializado em tratamentos não-invasivos. Ele tinha algumas novas idéias envolvendo sapatos e acolchoamento para proteger a espora, e não parecia pensar que meu pé estava tão mal assim. Contei a ele que sempre havia sonhado em pegar uma mochila e andar através dos continentes, mas estava começando a desistir da idéia.
“Você ainda pode fazer isso”, disse ele. “Apenas comece por um continente pequeno.”